FUVEST 2008 – Questão 45

Linguagens / Literatura / Modernismo Brasileiro: 1a Fase / Mário de Andrade
S. Paulo, 13-XI-42
Murilo
    São 23 horas e estou honestissimamente em casa, imagine! Mas é doença que me prende, irmão pequeno. Tomei com uma gripe na semana passada, depois, desensarado, com uma chuva, domingo último, e o  resultado foi uma sinusitezinha infernal que me inutilizou mais esta semana toda. E eu com tanto trabalho! Faz quinze dias que não faço nada, com o desânimo de apósgripe, uma moleza invencível, e as dores e tratamento atrozes. Nesta noitinha de hoje me senti mais animado e andei trabalhandinho por aí. (...)
    Quanto a suas reservas a palavras do poema que lhe mandei, gostei da sua habilidade em pegar todos os casos “propositais”. Sim senhor, seu poeta, você até está ficando escritor e estilista. Você tem toda a razão de não gostar do “nariz furão”, de “comichona”, etc. Mas lhe juro que o gosto consciente aí é da gente não gostar  sensitivamente. As palavras são postas de propósito pra não gostar, devido à elevação declamatória do coral que precisa ser um bocado bárbara, brutal, insatisfatória e lancinante. Carece botar um pouco de insatisfação no prazer estético, não deixar a coisa muito bem-feitinha.(...) De todas as palavras que você recusou só uma continua me desagradando “lar fechadinho”, em que o carinhoso do diminutivo é um desfalecimento no grandioso do coral.
(Mário de Andrade, Cartas a Murilo Miranda.)
No trecho “...o gosto consciente aí é da gente não gostar sensitivamente”, apresenta-se um jogo de idéias contrárias, que também ocorre em
a) “dores e tratamento atrozes”.
b) “reservas a palavras do poema”.
c) “insatisfação no prazer estético”.
d) “a coisa muito bem-feitinha”.
e) “o carinhoso do diminutivo”.
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