Leia um trecho do “Manifesto do Surrealismo”, publicado por André Breton em 1924.
Surrealismo: Automatismo psíquico por meio do qual alguém se propõe a exprimir o funcionamento real do pensamento. Ditado do pensamento, na ausência de controle exercido pela razão, fora de qualquer preocupação estética ou moral.
O Surrealismo assenta-se na crença da realidade superior de certas formas de associação, negligenciadas até aqui, na onipotência do sonho, no jogo desinteressado do pensamento.
(Apud Gilberto Mendonça Teles,Vanguardaeuropeia e
Modernismo brasileiro, 1992. Adaptado.)
Tendo em vista as considerações de André Breton assinale a alternativa cujos versos revelam influência do Surrealismo.
a)
O mar soprava sinos
os sinos secavam as flores
as flores eram cabeças de santos.
Minha memória cheia de palavras
meus pensamentos procurando fantasmas
meus pesadelos atrasados de muitas noites.
(João Cabral de Melo Neto,
“Noturno”, em Pedra do sono.)
b)
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé.
Comprida história que não acaba mais.
(Carlos Drummond de Andrade
“Infância”, em Alguma poesia.)
c)
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes na vida.
(Manuel Bandeira, “Momento num café”em Estrela da manhã.) UNESP 1ª FASE — NOVEMBRO/2015
d)
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum
[exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais, sentes
calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo
[sexual.
(Carlos Drummond de Andrade,
“Elegia 1938”, em Sentimento do mundo.)
e)
– Bem me diziam que a terra
se faz mais branda e macia
quanto mais do litoral
a viagem se aproxima.
Agora afinal cheguei
nessa terra que diziam.
Como ela é uma terra doce
para os pés e para a vista.
(João Cabral de Melo Neto, “O retirante chega à Zona da Mata”,
em Morte e vida severina.)