UNIFESP port e inglês 2011 – Questão 15

Linguagens / Português / Língua e Funções / Interpretação de texto
(...) Um poeta dizia que o menino é o pai do homem. Se isto é verdade, vejamos alguns lineamentos do menino. Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino diabo”; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher do doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce “por pirraça”; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele  obedecia, – algumas vezes gemendo – mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um – “ai, nhonhô!” –  ao que eu retorquia: “Cala a boca, besta!” – Esconder os chapéus das visitas, deitar rabos de papel a pessoas  graves, puxar pelo rabicho das cabeleiras, dar beliscões  nos braços das matronas, e outras muitas façanhas deste jaez, eram mostras de um gênio indócil, mas devo crer que eram também expressões de um espírito robusto, porque meu pai tinha-me em grande admiração; e se às vezes me repreendia, à vista de gente, fazia-o por simples formalidade: em particular dava-me beijos.
Não se conclua daqui que eu levasse todo o resto da minha vida a quebrar a cabeça dos outros nem a esconder-lhes os chapéus; mas opiniático, egoísta e algo contemptor dos homens, isso fui; se não passei o tempo  a esconder-lhes os chapéus, alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras.
(Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas.)
Indique a frase que, no contexto do fragmento, ratifica o sentido de "o menino é o pai do homem", citação inicial do narrador.
a) (...) fui dos mais malignos do meu tempo (...)
b) (...) um dia quebrei a cabeça de uma escrava (...)
c) (...) deitei um punhado de cinza ao tacho (...)
d) (...) fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado (...)
e) (...) alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras.

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