Em 1816, sob os auspícios da Família Real Portuguesa, chegou ao Brasil um grupo de pintores que integrou a "Missão Artística Francesa". Um desses artistas foi Jean Baptiste Debret, que retratou em aquarelas cenas do cotidiano da sociedade brasileira na cidade do Rio de Janeiro. Observe uma de suas obras:
Família pobre em sua casa, litografia de Jean Baptiste Debret.
FONTE: http://www.marilia.unesp.br/home/revistaseletronicas/baleianarede/edicao03/pintura.pdf (adaptado)
Família pobre em sua casa apresenta uma cena ocorrida no interior de um ambiente doméstico, onde os personagens estão todos no primeiro plano, com destaque suficiente para que1 suas ações sejam percebidas. Ao dividirmos a obra ao meio, dois personagens ficam à esquerda da composição, para quem observa, e outro à direita, o que poderia denotar, em princípio, certo desequilíbrio. A luz é distribuída de maneira uniforme entre todos os elementos da obra, e as paredes, em tons escuros, não são vazias. Ao contrário, são carregadas de texturas e objetos que, no final das contas, contribuem para que a composição obtenha um novo equilíbrio.
Em pé, próxima à entrada da casa, vemos uma mulher negra, que2 talvez tenha acabado de entrar no ambiente. Ela3 é alta, ocupando quase a totalidade do espaço vertical do lado esquerdo da composição, e torna-se maior ainda em razão do recipiente que carrega, sem o apoio das mãos, em sua4 cabeça. Tal objeto é grande5 e deve estar cheio, porque se nota uma penca de bananas em sua abertura [...]. Suas roupas são simples6: um lenço na cabeça, que lhe dá suporte para carregar o pesado objeto, uma saia azul, que cobre totalmente os membros inferiores, e uma blusa branca, que cai suavemente até o cotovelo, deixando à mostra seu colo, não denotando, contudo, qualquer sensualidade, já que não se destacam as formas do seio, mas sim de costelas sob a pele7, o que lhe dá uma fisionomia esquelética. Com a mão direita ela parece oferecer algo para uma mulher branca8 sentada no chão, e com a mão esquerda parece pegar o restante da oferta que guarda na sua blusa, que, caída até o ombro, funciona como um recipiente côncavo.
Contudo, não é possível ver se ela está pegando9 realmente algo, se está apenas se coçando10 ou ainda se
está sentindo alguma dor no local, haja vista o esforço de carregar um pesado recipiente sobre a cabeça [...].
Fonte: TREVISAN, A. R. A pintura da vida prosaica: pobreza e escravidão nas aquarelas de Debret. Baleia na rede - Revista online do Grupo de Pesquisa e Estudos em Cinema e Literatura, Unesp, v. 1, n. 3, p. 199-200, 2006. ISSN: 1808-8473. Disponível em http://www.marilia.unesp.br/home/revistaseletronicas/baleianarede/edicao03/pintura.pdf. 2011. (adaptado)