UERJ 2010 – Questão 14

Linguagens / Português / Língua e Funções / Interpretação de texto
Viagem ao centro da Terra
 
De início, não enxerguei nada. Havia muito tempo sem verem a luz, meus olhos imediatamente se fecharam. Quando consegui ver de novo, fiquei mais assustado que admirado:
– O mar!
– É – respondeu meu tio –, o mar Lidenbrock, e espero que nenhum navegador vá me contestar a honra de tê-lo descoberto e o direito de batizá-lo com meu nome!
Um enorme lençol de água, o começo de um lago ou de um oceano1, estendia-se até onde minha vista não podia alcançar2. As ondas vinham bater numa praia bastante recortada, formada por uma areia fina
e dourada, salpicada por aquelas conchinhas que abrigaram os primeiros seres da criação. As ondas
quebravam com aquele barulho característico dos ambientes muito amplos3 e fechados. Uma espuma
leve era soprada por um vento moderado4, e uma garoa me batia no rosto. A cerca de duzentos metros das ondas, naquela praia ligeiramente inclinada, estavam as escarpas de rochedos enormes, que se elevavam a uma altura incalculável. Alguns deles, cortando a praia com sua aresta aguda, formavam cabos e promontórios desgastados pelos dentes da arrebentação. Mesmo ao longe, seus contornos podiam ser vistos5 em contraste com o fundo nebuloso do horizonte.
Era realmente um oceano6, com o contorno irregular das praias terrestres, mas deserto, com um aspecto selvagem assustador.
Se minha vista podia passear ao longe naquele mar, era porque uma luz “peculiar” iluminava seus menores detalhes. Não a luz do Sol, com seus fachos brilhantes7 e sua irradiação plena, nem a da Lua, com seu brilho pálido e impreciso, que é apenas um reflexo sem calor. Não, aquela fonte de luz tinha uma propagação trêmula, uma claridade branca e seca, uma temperatura pouco elevada e um brilho de fato maior que o da Lua, evidenciando uma origem elétrica8. Era como uma aurora boreal9, um fenômeno cósmico permanente numa caverna capaz de conter um oceano.
 
Júlio Verne
Viagem ao centro da Terra. São Paulo: Ática, 2000.
A descrição do narrador revela que ele toma conhecimento da paisagem de modo gradativo.
Dois fragmentos que demonstram esse conhecimento gradativo são:
a) o começo de um lago ou de um oceano (ref.1) – Era realmente um oceano (ref.6)
b) até onde minha vista não podia alcançar (ref.2) – Não a luz do Sol, com seus fachos brilhantes (ref.7)
c) aquele barulho característico dos ambientes muito amplos (ref.3) – Mesmo ao longe, seus contornos podiam ser vistos (ref.5)
d) Uma espuma leve era soprada por um vento moderado (ref.4) – Era como uma aurora boreal (ref. 9)

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