UERJ 2008 – Questão 9

Linguagens / Português
Coração numeroso
Foi no Rio.
Eu passava na Avenida quase meia-noite.
Bicos de seio batiam nos bicos de luz estrelas inumeráveis.
Havia a promessa do mar
5 e bondes tilintavam,
abafando o calor
que soprava no vento
e o vento vinha de Minas.
Meus paralíticos sonhos desgosto de viver
10 (a vida para mim é vontade de morrer)
faziam de mim homem-realejo imperturbavelmente
na Galeria Cruzeiro quente quente
e como não conhecia ninguém a não ser o doce vento mineiro,
nenhuma vontade de beber, eu disse: Acabemos com isso.
15 Mas tremia na cidade uma fascinação casas compridas
autos abertos correndo caminho do mar
voluptuosidade errante do calor
mil presentes da vida aos homens indiferentes,
que meu coração bateu forte, meus olhos inúteis choraram.
20 O mar batia em meu peito, já não batia no cais.
A rua acabou, quede as árvores? a cidade sou eu
a cidade sou eu
sou eu a cidade
meu amor.
Carlos Drummond de Andrade
MORICONI, Italo (org). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro. Objetica, 2001.

O discurso poético se caracteriza pelo uso de recursos que abrem ao leitor a possibilidade de múltiplas interpretações.
A dupla possibilidade de leitura de uma mesma palavra é o recurso que provoca essa multiplicidade em:
a) “Eu passava na Avenida quase meia-noite.” (v. 2)
b) “Bicos de seio batiam nos bicos de luz estrelas inumeráveis.” (v. 3)
c) “Meus paralíticos sonhos desgosto de viver” (v. 9)
d) “na Galeria Cruzeiro quente quente” (v. 12)

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