UERJ 2006 – Questão 4

Linguagens / Português / Período Composto – Conjunção e Elementos Coesivos / Conjunção
O Líder
O sono do líder é agitado. A mulher sacode-o até  acordá-lo do pesadelo. Estremunhado, ele se  levanta, bebe um gole de água. Diante do espelho  refaz uma expressão de homem de meia-idade, alisa os cabelos das têmporas, volta a se deitar. Adormece  e a agitação recomeça. “Não, não!” debate-se ele  com a garganta seca.
O líder se assusta enquanto dorme. O povo ameaça  o líder? Não, pois se líder1 é aquele que guia o povo exatamente porque aderiu ao povo. O povo ameaça  o líder? Não, pois se o povo escolheu o líder. O povo ameaça o líder? Não, pois o líder cuida do  povo. O povo ameaça o líder?
Sim , o povo ameaça o líder do povo2. O líder revolve-se na cama. De noite ele tem medo. Mas o  pesadelo é um pesadelo sem história3. De noite, de  olhos fechados, vê caras quietas, uma cara atrás da  outra. E nenhuma expressão nas caras. É só este o  pesadelo, apenas isso. Mas cada noite, mal adormece, mais caras quietas vão se reunindo às outras, como na fotografia de uma multidão em silêncio. Por quem é este silêncio? Pelo líder. É uma sucessão de caras  iguais como na repetição monótona de um rosto só.  Nas caras não há senão a inexpressão4. A inexpressão ampliada como em fotografia ampliada. Um painel e cada vez com maior número de caras iguais. É só  isso. Mas o líder se cobre de suor diante da visão inócua de m ilhares de olhos vazios que não pestanejam. Durante o dia o discurso do líder é cada vez mais longo5, ele adia cada vez mais o instante da chave de ouro. Ultimamente ataca, denuncia, denuncia, denuncia, esbraveja e quando, em apoteose, 
termina, vai para o banheiro, fecha a porta e, uma vez sozinho, encosta-se à porta fechada, enxuga a testa molhada com o lenço. Mas tem sido inútil. De noite é sempre maior o número silencioso. Cada noite as caras aproximam-se um pouco mais. Cada noite ainda um pouco mais. Até que ele já lhes sente o calor do hálito6. As caras inexpressivas respiram—o líder acorda num grito. Tenta explicar à mulher: sonhei que...sonhei que... Mas não tem o que contar. Sonhou que era um líder de pessoas vivas7.
(LISPECTOR, Clarice. Para não esquecer. São Paulo:Siciliano, 1992.)
É uma sucessão de caras iguais como na repetição monótona de um rosto só. Nas caras não há senão a
inexpressão. (ref.4)
Embora não marcada linguisticamente, há uma relação semântica clara entre os dois períodos apontados acima. 
Essa relação pode ser explicitada pelo emprego do conectivo indicado em:
a) mas.
b) quando.
c) embora.
d) porque.

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