FUVEST 2012 – Questão 41

Linguagens / Literatura / Comparações - Obras, estilos, autores e outros / Diferentes escolas literárias
Passaram-se semanas. Jerônimo tomava agora, todas as manhãs, uma xícara de café bem grosso, à moda da Ritinha, e tragava dois dedos de parati “pra cortar a friagem”.
Uma 1transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora, 2reviscerando-lhe o corpo e 3alando-lhe os sentidos, num 4trabalho misterioso e surdo de crisálida. A sua energia afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso. A vida americana e a natureza do Brasil patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se dos seus primitivos sonhos de ambição, para idealizar felicidades novas, picantes e violentas; tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais amigo de gastar que de guardar; adquiria desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso, resignando-se, vencido, às imposições do sol e do calor, muralha de fogo com que o espírito eternamente revoltado do último tamoio entrincheirou a pátria contra os conquistadores aventureiros.
E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se. (...)
E o curioso é que, quanto mais ia ele caindo nos usos e costumes brasileiros, tanto mais os seus sentidos se apuravam, posto que em detrimento das suas forças físicas. Tinha agora o ouvido menos grosseiro para a música, compreendia até as intenções poéticas dos sertanejos, quando cantam à viola os seus amores infelizes; seus olhos, dantes só voltados para a esperança de tornar à terra, agora, como os olhos de um marujo, que se habituaram aos largos horizontes de céu e mar, já se não revoltavam com a turbulenta luz, selvagem e alegre, do Brasil, e abriam-se amplamente defronte 5dos maravilhosos despenhadeiros ilimitados e das cordilheiras sem fim, donde, de espaço a espaço, surge um monarca gigante, que o sol veste de ouro e ricas pedrarias refulgentes e as nuvens toucam de alvos turbantes de cambraia, num luxo oriental de arábicos príncipes voluptuosos.
Aluísio Azevedo, O Cortiço
O papel desempenhado pela personagem Ritinha (Rita Baiana), no processo sintetizado no excerto, assemelha-se ao da personagem

a) Iracema, do romance homônimo, na medida em que ambas simbolizam o poder de sedução da terra brasi­leira sobre o português que aqui chegava.
b) Vidinha, de Memórias de um sargento de milícias, tendo em vista que uma e outra constituem fatores decisivos para o desencaminhamento de personagens masculinas anteriormente bem orientadas.
c) Capitu, de  Dom Casmurro, a qual, como a baiana, também lança mão de seus encantos femininos para obter ascensão social.
d) Joaninha, de A cidade e as serras, pois ambas repre­sentam a simplicidade natural das mulheres do campo, em oposição à beleza artificiosa das mulheres das cidades.
e) Dora, de Capitães da areia, na medida em que ambas são responsáveis diretas pela regeneração física e moral de seus respectivos pares amorosos.
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