Base dudow 063 2000 – Questão 41

Linguagens / Português / Sintaxe
CAUTELA COM A LABORLATRIA
 
O cartunista Bob Thaves desenhou uma de suas instigantes tirinhas, que tem como personagens Frank & Ernest, os desleixados e eventualmente oportunistas representantes do "homem comum" do mundo contemporâneo urbano. Nesse quadrinho, Ernest, preocupado, pergunta a Frank: "Nós somos vagabundos?". Frank, resoluto, responde: "Não, nós não somos vagabundos. Vagabundo é quem não tem o que fazer; nós temos, só não o fazemos...".
Essa visão colide frontalmente com um dos esteios de uma sociedade que, na história, acabou por fortalecer uma obsessão laboral que, às vezes, beira a histeria produtivista e o trabalho insano e incessante. Desde as primeiras fontes culturais da sociedade ocidental, a exemplo de vários dos escritos judaico-cristãos, há uma condenação cabal do ócio e do não-envolvimento com a labuta incessante; no Sirácida, um dos livros da Bíblia (também chamado Eclesiástico), há uma advertência: "Lança-o no trabalho para que não fique ocioso, pois a ociosidade ensina muitas coisas perniciosas" (33, 28-29).
Já ouviu dizer que o ócio é a mãe do pecado? Ou que o demônio sempre arruma ofício para quem está com as mãos desocupadas? Ou ainda que cabeça vazia é oficina do Diabo?
Essa não é uma perspectiva exclusiva do mundo religioso. Voltaire, um dos grandes pensadores iluministas e hóspede eventual da Bastilha do começo do século 18 por seus artigos contra governantes e clérigos, escreveu em "Cândido": "O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade".
Ou, como registrou Anatole France, conterrâneo e herdeiro, no século seguinte, da mordacidade voltairiana: "O trabalho é bom para o homem. Distrai-o da própria vida, desvia-o da visão assustadora de si mesmo; impede-o de olhar esse outro que é ele e que lhe torna a solidão horrível. É um santo remédio para a ética e para a estética. O trabalho tem mais isso de excelente: distrai nossa vaidade, engana nossa falta de poder e faz-nos sentir a esperança de um bom acontecimento".
Não é por acaso que Paul Lafargue, um franco-cubano casado com Laura, filha de Karl Marx, e fundador do Partido Operário Francês, foi pouco compreendido na ironia contida em alguns de seus escritos. Em 1883, quando todo o movimento social reivindicava tenazmente o direito ao trabalho, isto é, o término de qualquer forma de desocupação, o genro de Marx publicou "Direito à Preguiça", uma desnorteante e - só na aparência - paradoxal análise da alienação e da exploração humana no sistema capitalista.

(Mário Sérgio Cortella, "Folha de S. Paulo", Equilíbrio, 1¡. de maio de 2003. Adaptado)

Assinale a alternativa em que os trechos do texto, reescritos, apresentam emprego de pronomes bem como concordância (nominal e verbal) de acordo com a norma culta.
a) Atividade é bom para os homens, que com ela se distrai da própria vida e desvia-se da visão assustadora de si mesmo.
b) Lancem-se os homens no trabalho, para que não fiquem ociosos, pois bastam-lhes a ociosidade que lhes ensinam muitas coisas perniciosas.
c) Certamente deve existir visões que colidem frontalmente com um dos esteios da sociedade; assim se fortaleceu obsessões laborais.
d) Voltaire foi um dos grandes pensadores iluministas, que escreveu contra o governo e o clero franceses, o que acabaram por levá-lo à Bastilha.
e) Houve muitos que defenderam o trabalho; não os acompanhou Paul Lafargue, em cuja obra encontram-se críticas à exploração humana.

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