UNIFESP port e inglês 2011 – Questão 20

Linguagens / Literatura / Realismo e Naturalismo / Realismo / Naturalismo no Brasil
Texto I
(...) Um poeta dizia que o menino é o pai do homem. Se isto é verdade, vejamos alguns lineamentos do menino.
Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino diabo"'; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher do doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce “por pirraça ”; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustiga va-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, -algumas vezes gemendo - mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um - “ai, nhonhô!” — ao que eu retorquia: "Cala a boca, besta! ” Esconder os chapéus das visitas, deitar rabos de papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabeleiras, dar beliscões nos braços das matronas, e outras muitas façanhas deste jaez, eram mostras de um gênio indócil, mas devo crer que eram também expressões de um espírito robusto, porque meu pai tinha-me em grande admiração: e se às vezes me repreendia, à vista de gente, fazia-o por simples formalidade: em particular dava-me. beijos.
Não se conclua daqui que eu levasse todo o resto da minha vida a quebrar a cabeça dos outros nem a esconder-lhes os chapéus: mas opiniático. egoísta e algo conlemptor dos homens, isso fui; se não passei o tempo a esconder lhes os chapéus, alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras.
(Machado dc Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas.)
 
Texto II
Crescia naluralmenle
Fazendo estripulia,
Malino e muito arguto,
Gostava de zombaria.
A cabeça duma escrava
Quase arrebentei um dia.

E tudo isso porque
Um doce me havia negado.
De cinza no un ho cheio
Inda joguei um punhado.
Dai porque a alcunha
De "Menino Endiabrado".

Frudêncio era um menino
Da casa. que agora falo.
Botava suas mãos no chão
Pra poder depois montá-lo:
Com um chicote na mão
Fazia dele um cavalo.
(Varneci Nascimento.
Memórias póstumas de Bras Cubas em cordel.)

Compare o trecho de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, com o fragmento do poema O  navio negreiro – tragédia no mar, de Castro Alves. Indique a alternativa que apresenta aspectos observáveis nos dois textos.
a) Tema da escravidão, contenção expressional, exploração do ritmo da frase, visão crítica da realidade.
b) Ironia, exploração do ritmo da frase, intertextualidade explícita, denúncia de problemas sociais.
c) Tema da escravidão, visão crítica da realidade, exploração do ritmo da frase, representação do homem como objeto do homem.
d) Estilo apurado, visão crítica da realidade, representação do homem como objeto do homem, intertextualidade explícita.
e) Tema da escravidão, tom arrebatado, visão crítica da realidade, estilo apurado.

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