Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo claramente
Na vossa ardente vista o sol ardente,
E na rosada face a aurora fria:
Enquanto pois produz, enquanto cria
Essa esfera gentil, mina excelente
No cabelo o metal mais reluzente,
E na boca a mais fina pedraria:
Gozai, gozai da flor da formosura,
Antes que o frio da madura idade
Tronco deixe despido o que é verdura.
Que passado o zênite* da mocidade,
Sem a noite encontrar da sepultura
É cada dia ocaso da beldade.
Compare, agora, dois poemas escritos em séculos diferentes: o soneto da questão anterior, de Gregório de Matos (século XVII) e este fragmento de uma lira de Tomás Antônio Gonzaga (século XVIII):
[...]
Ornemos nossas testas com as flores,
E façamos de feno um brando leito;
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos amores.
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o tempo corre;
E para nós o tempo, que se passa,
Também, Marília, morre.
Com os anos, Marília, o gosto falta,
E se entorpece o corpo já cansado;
Triste, o velho cordeiro está deitado,
E o leve filho sempre alegre salta.
A mesma formosura
É dote que só goza a mocidade:
Rugam-se as faces, o cabelo alveja,
Mal chega a longa idade.
Que havemos de esperar, Marília bela?
Que vão passando os florescentes dias?
As glórias, que vêm tarde, já vêm frias;
E pode enfim mudar-se a nossa estrela.
Ah! não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
O estrago de roubar ao corpo as forças,
E ao semblante a graça.
Marília de Dirceu, lira XIV, primeira parte.
Assinale verdadeira (V) ou falsa (F) nas afirmações.
( ) Os dois poemas versam sobre o mesmo tema, a fugacidade do tempo; decorre daí um motivo horaciano, também presente nos dois textos, o carpe diem.
( ) Trata-se de duas composições dialogadas, impregnadas de sentimento amoroso, que remetem à vida campestre.
( ) No soneto, o referente fica menos explícito do que na lira, na qual o realismo das cenas se impõe.
( ) Ambos os textos privilegiam imagens visuais e se valem do jogo cromático entre luz e sombra.
( ) Diante do inevitável, a reação de Dirceu é tranquila, pois celebra a vida; no soneto, o eu-lírico não se liberta da imagem da morte.
A sequência correta é
a) V - V - F - F - F.
b) F - F - V - V - V.
c) V - F - V - F - V.
d) F - V - F - V - F.
e) V - F - V - F - F.