A beleza da forma física feminina constituiu assunto predileto da poesia arcádica brasileira. Leia as seguintes estrofes da Lira 27, de Tomás Antônio Gonzaga:
Vou retratar a Marília,
a Marília, meus amores;
porém como? se eu não vejo
quem me empreste as finas cores:
dar-mas a terra não pode;
não, que a sua cor mimosa
vence o lírio, vence a rosa,
o jasmim e as outras flores.
Ah! socorre, Amor, socorre
ao mais grato empenho meu!
Voa sobre os astros, voa,
Traze-me as tintas do céu.
[...]
Entremos, Amor, entremos,
entremos na mesma esfera;
venha Palas, venha Juno,
Venha a deusa de Citera.
Porém, não, que se Marília
no certame antigo entrasse,
bem que a Páris não peitasse,
a todas as três vencera.
Vai-te, Amor, em vão socorres
ao mais grato empenho meu:
para formar-lhe o retrato
não bastam tintas do céu.
Certame: disputa
Juno: deusa da mitologia romana, esposa de Júpiter
Palas: deusa da mitologia romana, presidia a guerra
Deusa de Citera: Afrodite, deusa do amor
Páris: príncipe troiano, responsável por escolher a deusa mais bela do Olimpo
Com respeito ao texto referido, todas as afirmativas estão corretas, EXCETO:
a) Na lira 27, Dirceu exalta a beleza de Marília e, para fazer isso, recorre a personagens da Antiguidade Clássica.
b) Os versos dessa lira são regulares, formados por sete sílabas métricas.
c) Com a alusão à tentativa de trazer as "tintas do céu" para pintar o retrato de Marília, o eu lírico sugere que a beleza dela atinge a esfera do divino, do sublime, transcendendo a beleza encontrada no mundo terreno.
d) Há uma equivalência de sentido entre os quatro últimos versos da primeira estrofe e os quatro últimos versos da segunda estrofe.
e) O eu lírico tem como interlocutor o Amor, isto é, a divindade da mitologia clássica que rege o sentimento amoroso.