Sol em fúria
Estrela-mãe começa a entrar em período de intensa ação. Explosões podem afetar de aparelhos eletrônicos a satélites
Sílvia Pacheco
De repente, satélites pifam, telecomunicações são cortadas e radares não “veem” mais. A rede de energia cai e os transportes param de funcionar. Tudo o que tem circuitos elétricos, de carros a computadores, queima. A descrição desse cenário apocalíptico parece saída do cinema. É, porém, algo mais próximo da realidade do que se imagina. O grande vilão, no entanto, não são alienígenas invadindo a Terra, mas o responsável pela vida no planeta: o Sol. Recentemente, três tempestades solares consecutivas levaram cientistas americanos a emitirem um alerta sobre perturbações no funcionamento eletrônico de alguns equipamentos. O astro-rei está despertando de um sono profundo, período no qual sua atividade fica baixa.
As atividades solares ocorrem com frequência, mas ninguém as sente, porque a Terra tem um campo magnético que a protege, chamado de magnetosfera. O problema é que, dependendo da intensidade de uma dessas tempestades, o “escudo” é comprimido fortemente pela força das explosões.
O Sol apresenta um ciclo de atividade de aproximadamente 11 anos, com a quantidade de manchas escuras, explosões e ejeções de massa coronal variando durante esse tempo. O último pico de atividade solar havia ocorrido entre 2000 e 2002. Nesse período, ocorreram explosões por dia, enquanto na fase de atividade mínima - entre 2007 e 2010 - semanas se passaram sem que ocorresse uma única explosão. “Atualmente, estamos em um período no qual a atividade está crescendo lentamente para o próximo máximo, que deve ocorrer entre 2013 e 2014”, diz Adriana Válio, astrônoma do Centro de Radioastronomia e Astrofísica Mackenzie e autora do livro Nossa Estrela: o Sol.
O fenômeno que pode deixar a Terra mais vulnerável e que preocupa os cientistas é a “ejeção de massa coronal”. Essa explosão expulsa matéria da atmosfera solar para o espaço. O perigo está nas partículas radioativas, que, ao entrarem em contato com a magnetosfera, formam uma tempestade eletromagnética capaz de fritar tudo o que tiver circuito elétrico. “Quando a tempestade é muito intensa, acaba afetando regiões de alta altitude, como os polos e países como o Canadá, a Rússia e os do Norte da Europa”, conta José Leonardo Ferreira, doutor em ciências espaciais e professor do Instituto de Física da Universidade de Brasília (UnB). Satélites geoestacionários são os mais afetados, além de sistemas por GPS e radares.
Esses fatos já ocorreram antes. Em 1859, uma tempestade do tipo queimou as linhas de telégrafo na Europa e nos Estados Unidos. Em março de 1989, ocorreu um apagão causado por atividade solar em Montreal, no Canadá, que durou 11 horas. Hoje, o efeito seria muito pior. Um relatório assinado por cientistas de 17 universidades americanas e europeias diz que a humanidade levaria até 10 anos para se recuperar de um grande evento do tipo, por causa das avançadas estruturas elétricas atuais.
A solução é desligar tudo o que for elétrico, antes da tempestade. “A única defesa que temos é a previsão das atividades solares. Com elas, temos de dois a três dias para tomarmos medidas preventivas, como o desligamento dos satélites e dos sistemas que comandam os dutos petrolíferos e que, se afetados, podem render prejuízos econômicos e até ambientais”, explica Ferreira.
Fonte: PACHECO, Sílvia. Sol em fúria. Estado de Minas, Belo Horizonte, 23 ago. 2011. Ciência, p. 30.
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