Leia os fragmentos abaixo, da obra de Clarice Lispector, o primeiro extraído da crônica Mineirinho, do livro Para Não Esquecer, e o segundo, do conto Amor, do livro Laços de Família.
1 - É, suponho que é em mim, como um dos representantes de nós, que devo procurar por que está doendo a morte de um facínora. E por que é que mais me adianta contar os treze tiros que mataram Mineirinho do que os seus crimes. [...] Até que viesse uma justiça um pouco mais doida. Uma que levasse em conta que todos temos que falar por um homem que se desesperou porque neste a fala humana já falhou, ele já é tão mudo que só o bruto grito inarticulado serve de sinalização. Uma justiça prévia que se lembrasse que nossa grande luta é a do medo, e que um homem que mata muito é porque teve muito medo.
2 - Ela apaziguara tão bem a vida, cuidara tanto para que esta não explodisse. Mantinha tudo em serena compreensão, separava uma pessoa das outras, as roupas eram claramente feitas para serem usadas e podia-se escolher pelo jornal o filme da noite - tudo feito de modo a que um dia se seguisse o outro.
E um cego mascando goma despedaçava tudo isso. E através da piedade aparecia a Ana uma vida cheia de náusea doce, até a boca.
Sobre esses fragmentos, são feitas as seguintes afirmações.
I - O primeiro fragmento mostra a preocupação da escritora com os problemas sociais, ao compartilhar com os leitores a responsabilidade por não silenciar a respeito do fuzilamento do bandido Mineirinho.
II - O segundo fragmento faz um elogio discreto da autora ao cotidiano da típica dona de casa de classe média, que deve também cultivar sentimentos e ações de solidariedade para com os desvalidos.
III- O episódio contido no segundo fragmento manifesta a ocorrência da epifania, fenômeno comum nos textos da autora, que consiste na revelação súbita de algo até então desconhecido para a personagem.
Quais são corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e II.
e) Apenas I e III.