UERJ 2016 – Questão 9

Linguagens / Português
A ARTE DE ENGANAR
Em seu livro Pernas pro ar, Eduardo Galeano recorda que, na era vitoriana, era proibido mencionar “calças” na presença de uma jovem. Hoje em dia, diz ele, não cai bem utilizar certas expressões perante a opinião pública: “O capitalismo exibe o nome artístico de economia de mercado; imperialismo se chama globalização; suas vítimas se chamam países em via de desenvolvimento; oportunismo se chama pragmatismo; despedir sem indenização nem explicação se chama flexibilização laboral”1 etc.
A lista é longa. Acrescento os inúmeros preconceitos que carregamos: ladrão é sonegador; lobista é consultor; fracasso é crise2; especulação é derivativo; latifúndio é agronegócio; desmatamento é investimento rural; lavanderia de dinheiro escuso é paraíso fiscal; acumulação privada de riqueza é democracia3; socialização de bens é ditadura; governar a favor da maioria é populismo; tortura é constrangimento ilegal; invasão é intervenção; peste é pandemia4; magricela é anoréxica5.
Eufemismo é a arte de dizer uma coisa e acreditar que o público escuta ou lê outra. É um jeitinho de escamotear significados. De tentar encobrir verdades e realidades. Posso admitir que pertenço à terceira idade, embora esteja na cara: sou velho. Ora, poderia dizer que sou seminovo6! Como carros em revendedoras de veículos. Todos velhos! Mas o adjetivo seminovo os torna mais vendáveis.
Coitadas das palavras! Elas são distorcidas para que a realidade, escamoteada, permaneça como está7. Não conseguem, contudo, escapar da luta de classes: pobre é ladrão, rico é corrupto8. Pobre é viciado, rico é dependente químico.
Em suma, eufemismo é um truque semântico para tentar amenizar os fatos.
Frei Betto
Adaptado de O Dia, 21/03/2015
Em sua origem grega, o termo “eufemismo” significa “palavra de bom agouro” ou “palavra que deseja o bem”. Como figura de linguagem, indica um recurso que suaviza alguma ideia ou expressão mais chocante.
Na crônica, o autor enfatiza o aspecto negativo dos eufemismos, que serviriam para distorcer a realidade.
De acordo com o autor, o eufemismo camufla a desigualdade social no seguinte exemplo:
a) fracasso é crise (ref.2)
b) peste é pandemia (ref.4)
c) magricela é anoréxica ( ref.5)
d) rico é corrupto (ref.8 )

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