UERJ 2014 – Questão 12

Linguagens / Redação
A invasão dos blablablás

O planeta é dividido entre as pessoas que falam no cinema − e as que não falam. É uma divisão recente. Por décadas, os falantes foram minoria. E uma minoria reprimida. Quando alguém abria a boca na sala escura, recebia logo um shhhhhhhhhhhhh. E voltava ao estado silencioso de onde nunca deveria ter saído. Todo pai ou mãe que honrava seu lugar de educador ensinava a seus (l.5) filhos que o cinema era um lugar de reverência. Sentados na poltrona, as luzes se apagavam, uma música solene saía das caixas de som, as cortinas se abriam e um novo mundo começava. Sem sair do lugar, vivíamos outras vidas, viajávamos por lugares desconhecidos, chorávamos, ríamos, nos apaixonávamos. Sentados ao lado de desconhecidos, passávamos por todos os estados de alma de uma vida inteira sem trocar uma palavra. Comungávamos em silêncio do (l.10) mesmo encantamento. (...)
Percebi na sexta-feira que não ia ao cinema havia três meses. Não por falta de tempo, porque trabalhar muito não é uma novidade para mim. Mas porque fui expulsa do cinema. Devagar, aos poucos, mas expulsa. Pertenço, desde sempre, às fileiras dos silenciosos. Anos atrás, nem imaginava que pudesse haver outro comportamento além do silêncio absoluto no cinema. Assim (l.15) como não imagino alguém cochichando em qualquer lugar onde entramos com o compromisso de escutar.
Não é uma questão de estilo, de gosto. Pertence ao campo do respeito, da ética. Cinema é a experiência da escuta de uma vida outra, que fala à nossa, mas nós não falamos uns com os outros. No cinema, só quem fala são os atores do filme. Nós calamos para que eles possam falar.(l.20) Nossa vida cala para que outra fale.
Isso era cinema. Agora mudou. É estarrecedor, mas os blablablás venceram. Tomaram conta das salas de cinema. E, sem nenhuma repressão, vão expulsando a todos que entram no cinema para assistir ao filme sem importunar ninguém.
(...)
Eliane Brum
revistaepoca.globo.com, 10/08/2009
No cinema, só quem fala são os atores do filme. Nós calamos para que eles possam falar. Nossa vida cala para que outra fale. (l. 19-20)
O trecho acima usa uma figura de linguagem chamada de:
a) metáfora.
b) hipérbole.
c) eufemismo.
d) metonímia.

Veja outras questões semelhantes:

UERJ 2017 – Questão 21
In the last paragraph, the author refers to the hula show to reinforce the following idea: a) the dancers should focus less on their heritage. b) the people should be more concerned about their culture. c) the government should prohibit this kind of entertainment. d) the performance should be used to stress native stereotypes.
UERJ 2015 – Questão 24
Uma chapa de aço com a forma de um setor circular possui raio R e perímetro 3R, conforme ilustra a imagem. A área do setor equivale a: a) R2 b) R24 c) R22 d) 3R22
UERJ 2015 – Questão 47
O problema básico das projeções cartográficas é a representação de uma superfície curva em um plano. Pode-se dizer que todas as representações de superfícies curvas em um plano envolvem “extensões” ou “contrações”, que resultam...
UERJ 2016 – Questão 11
Na produção do humor, traço típico da crônica, o autor combina eufemismos com outros recursos ou figuras de linguagem. O exemplo em que o humor é produzido por meio da superposição entre um eufemismo e uma ...
UERJ 2018 – Questão 38
No século XIX, o cientista Svante Arrhenius definiu ácidos como sendo as espécies químicas que, ao se ionizarem em solução aquosa, liberam como cátion apenas o íon H+. Considere as seguintes substâncias, que apresentam hidrogênio em sua composição: C2H6, H2SO4, NaOH, NH4Cl. Dentre elas, aquela classificada como ácido, segundo a definição de Arrhenius, é: a) C2H6 b) H2SO4 c) NaOH d) NH4Cl