UERJ 2008 – Questão 13

Linguagens / Português / Período Composto – Conjunção e Elementos Coesivos / Conjunção
As esperanças
 
Uma esperança entrou em meu quarto1. Trouxeram-me o pequeno corpo vegetal, quase imobilizado pelo medo, como se fosse um sinal de próxima vitória minha. Pedi que devolvessem a “esperança” ao seu meio, que a salvassem imediatamente. Depois, fechei os olhos e revi o mundo de esperanças que me veio acompanhando da infância até aqui: os relvados de outrora, e o reino de grilos, das “esperanças”, dos louva-a-deus. Sobre o meu peito se estendeu uma espécie de campo verde, longo, contínuo. Tive a sensação de que fora sempre uma árvore e que me percorriam pequenos corpos vegetais.
(...)
Começo a brincar com a palavra esperança2. “Já não é  mais a hora de esperança3”, digo-me eu. “Esperança em  quê?4” Ouço então uma voz que me diz: “Encontrarás, do outro lado da Terra, uma grande e amena extensão relvada, onde poderás dormir com a tranquilidade que nunca encontraste aqui. As ‘esperanças’ velarão pelo teu sono e pelo ritmo de todas as coisas. Quando se acaba o mundo de desesperanças, se inicia o tempo das esperanças. Não demores em dormir o teu sono final. Não insistas em ficar pensando insone. Do outro lado há um sono, como um pálio*  aberto5. Dorme-se quando se espera, quando há esperança; ou quando a vida se tornou idêntica à própria morte, e as ‘esperanças’ bóiam nas águas estagnadas e são corpos defuntos conduzidos ao léu, ao capricho dos ventos espessos”.
Mas a “esperança” que entrou no meu quarto falou-me também com insistência, em presença terrestre, em vitória neste mundo, em recuperação floral, em sol, em leite, em campo, em olhos, em mel, em estradas, em encontros julgados já impossíveis e que inesperadamente se realizam, quando tudo convidava a desesperar.
Meu Deus - a “esperança” me chamou a atenção para o mundo terrestre, mas não para o reino em que vivi até agora e onde acabei apenas existindo, vergado pelo tédio, pelo “já visto”, pelo desgosto de mim mesmo e dos outros. A “esperança” trouxe-me a imagem de dias verdes e leves, das coisas tocadas pela poesia. O olhar de sono depois das vindimas*; as mãos álacres* e febris; o riso das malícias inocentes. Oh! Este mundo é o mundo em que habito, mas não é mais o meu mundo.
Uma pálpebra longa e dolorosa começa a cerrar-se por sobre todas as coisas belas, primaveris. Através das janelas fechadas entra um fio de sol de fim de tarde. Quem bate no peito e reza no coro de vozes longas? É o vento, é a noite, é a montanha habitada pelos espíritos. A pequena “esperança” é o contrário de tudo isso. É o espírito inocente. É a pequena vida. É o sorriso. É tudo ou nada.
De quando em quando, antigamente, achávamos uma “esperança” parecida com o pedaço de uma folha de árvore6. Leve, disfarçada, quieta, dissimulada. “Esse bicho é um louva-a-deus. E de parreira...”
Agora veio a sombra. Mas a esperança está cantando. Deus meu, que voz triste essa que me convida a viver!
 
AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT
Mey, Leticia et. al (org). Saudade  de mim mesmo:
uma anotologia de prosa de Augusto Frederico Schmidt
São Paulo: Globo, 2006.
Vocabulário:
*pálio – manto
*vindimas – colheitas das uvas
*álacres – entusiasmadas, alegres
Não insistas em ficar pensando insone. Do outro lado há um sono, como um pálio aberto. (ref.5)
No fragmento acima, as duas sentenças, embora separadas apenas por ponto, mantêm entre si um vínculo lógico.
Esse vínculo pode ser caracterizado como:
a) final.
b) causal.
c) concessivo.
d) comparativo.

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