UEMA 2023 – Questão 5

Linguagens / Português
Clarice Lispector nasceu em uma aldeia na Ucrânia (Antiga União Soviética). Ao chegar ao Brasil, desembarcou em Manaus, quando tinha dois meses de idade, depois se mudou para Recife. Viveu fora do Brasil, fez leituras de grandes brasileiros e de estrangeiros, trazendo inovações, produzindo um estilo que a tornou uma das grandes escritoras de Língua Portuguesa.
Leia um fragmento de um dos capítulos de seu primeiro livro.
 
ALEGRIAS DE JOANA
 
A liberdade que às vezes sentia. Não vinha de reflexões nítidas, mas de um estado como feito de percepções por demais orgânicas para serem formuladas em pensamentos. Às vezes, no fundo da sensação tremulava uma ideia que lhe dava leve consciência de sua espécie e de sua cor.
O estado para onde deslizava quando murmurava: eternidade. O próprio pensamento adquiria uma qualidade de eternidade. Aprofundava-se magicamente e alargava-se, sem propriamente um conteúdo e uma forma, mas sem dimensões também. A impressão de que se conseguisse manter-se na sensação por mais uns instantes teria uma revelação — facilmente, como enxergar o resto do mundo apenas inclinando-se da terra para o espaço.
Eternidade não era só o tempo, mas algo como a certeza enraizadamente profunda de não poder contê-lo no corpo por causa da morte; a impossibilidade de ultrapassar a eternidade era eternidade; e também era eterno um sentimento em pureza absoluta, quase abstrato. Sobretudo dava ideia de eternidade a impossibilidade de saber quantos seres humanos se sucederiam após seu corpo, que um dia estaria distante do presente com a velocidade de um bólido.
Definia eternidade e as explicações nasciam fatais como as pancadas do coração. Delas não mudaria um termo sequer, de tal modo eram sua verdade. Porém mal brotavam, tornavam-se vazias logicamente. Definir a eternidade como uma quantidade maior que o tempo e maior mesmo do que o tempo que a mente humana pode suportar em ideia também não permitiria, ainda assim, alcançar sua duração. Sua qualidade era exatamente não ter quantidade, não ser mensurável e divisível porque tudo o que se podia medir e dividir tinha um princípio e um fim. Eternidade não era a quantidade infinitamente grande que se desgastava, mas eternidade era a sucessão.
LISPECTOR, Clarice. Perto do Coração Selvagem: Rio de Janeiro: Rocco, 2019.


 
A adjetivação no título da obra de Lispector, "Perto do Coração Selvagem", apresenta carga semântica que revela
a) a concepção de uma mulher indomável, diversa e complexa, com aspectos morais bem definidos, sem se importar com os questionamentos sociais, embora esteja sempre se questionando: a personagem mãe.
b) a atitude de engajamento e de protecionismo, de forma incisiva e questionadora, atento às questões existenciais da filha, revelando-se diferente do espectro masculino da época: o personagem pai.
c) a ação de descentralização e fóbica, com traços de sentimentos de raiva e de outros sentimentos negativos, que se revela anticristã nas relações extrafamiliares: o personagem Otávio.
d) a sensação de medo de sermos vítimas da maldade de outros, marcada, ao mesmo tempo pela sedução por ações más que causam um suspense e deixam em constante expectativa: a personagem Lídia.
e) a acepção de um indivíduo mediado por atitudes de rudeza, um tipo rústico, que não aceita ser doutrinado e inserido em uma moral, pelo menos não sem antes questioná-la: a protagonista Joana.

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