epois entrou em casa: entrou e parece que não gostou ou não entendeu. Foi perguntando onde é que ficava o elevador. E sabendo que não havia elevador, indagou como é que se ia para cima. Nós explicamos que não havia lá em cima. Ele ficou completamente perplexo e quis saber onde é que o povo morava. E não acreditou direito quando lhe afirmamos que não havia mais povo, só nós. Calou-se, percorreu o resto da casa e as dependências, se aprovou, não disse. Mas, à porta da sala de jantar, inesperadamente, deu com o quintal. Perguntou se era o Russell. Perguntou se tinha escorrega, se tinha gangorra. Perguntou onde é que estavam “os outros meninos”. Claro que achava singular e até meio suspeito aquela porção de terra e árvores sem ninguém dentro. Todas essas observações, fê-las ainda do degrau da sala. Afinal, estirou tentativamente a ponta do pé, tateou o chão, resolveu explorar aquela floresta virgem. Sacudia os galhos baixos das fruteiras, arrancava folhas que mastigava um pouco, depois cuspia. Rodeou o poço, devagarinho, sem saber o que havia por trás daquele muro redondo e branco, coberto de madeira. Enfim, chegou debaixo da goiabeira grande, onde se via uma goiaba madura, enorme. Declarou então que queria comer aquela pêra. Lembrei-me do Padre Cardim – não era o Padre Cardim? – que definia goiabas como “espécie de peros, pequenos no tamanho” –, onde se vê que os clássicos e as crianças acabam sempre se encontrando. Decerto porque uns e outros vão apanhar a verdade nas suas fontes naturais.
(QUEIROZ, R. Conversa de menino. São Paulo: Global, 2004. p.114-115. (Coleção Melhores Crônicas).)
Com base no texto, atribua V (verdadeiro) ou F (falso) às afirmativas a seguir.
( ) Em “Mas, à porta da sala de jantar, inesperadamente, deu com o quintal”, há uma expressão informal que revela o modo de o narrador adulto se distanciar da perspectiva do menino.
( ) Em “Todas essas observações, fê-las ainda do degrau da sala”, há o emprego de linguagem formal exemplificada pelo uso da ênclise.
( ) Em “Enfim, chegou debaixo da goiabeira grande, onde se via uma goiaba madura, enorme”, as perspectivas do narrador adulto e do menino aproximam-se por meio do uso do pronome “se”.
( ) Em “Decerto porque uns e outros vão apanhar a verdade nas suas fontes naturais”, há a formulação de uma reflexão do narrador adulto motivada por observações do comportamento geral de crianças.
Assinale a alternativa que contém, de cima para baixo, a sequência correta.
a) V, V, F, F.
b) V, F, V, F.
c) V, F, F, V.
d) F, V, F, V.
e) F, F, V, V.