TEXTO 1
Valorizar o professor do ciclo básico
1Como não sou perito em futurologia, devo limitar-me a fazer um exercício de observação. Presto atenção ao que se passa na escola hoje e suponho que, daqui a 25 anos, as tendências 5 atuais persistirão com maior ou menor intensidade. Provavelmente, o analfabetismo dos adultos terá sido erradicado e o acesso à instrução primária terá sido generalizado.
Tudo indica que a demanda continuará a 10crescer em relação ao ensino secundário e superior. Se os poderes públicos não investirem sistematicamente na expansão desses dois níveis, a escola média e a universidade serão, em grande parte, privatizadas.
15A educação a distância será promovida tanto pelo Estado como pelas instituições particulares.Essa alteração no uso de espaços escolares tradicionais levará a resultados contraditórios. De um lado, aumentará o número de informações 20 e instrumentos didáticos de alta precisão. De outro lado, a elaboração pessoal dos dados e a sua crítica poderão sofrer com a falta de um diálogo sustentado face a face entre o professor e o aluno.
25É preciso pensar, desde já, nesse desafio que significa aliar eficiência técnica e profundidade ou densidade cultural.O risco das avaliações sumárias, por meio de testes, crescerá, pois os processos informáticos 30 visam a poupar tempo e reduzir os campos de ambiguidade e incerteza. Com isso, ficaria ainda mais raro o saber que duvida e interroga, esperando com paciência, até vislumbrar uma razão que não se esgote no simplismo do certo 35 versus errado. Poderemos ter especialistas cada vez mais peritos nas suas áreas e massas cada vez mais incapazes de entender o mundo que as rodeia. De todo modo, o futuro depende, em larga escala, do que pensamos e fazemos no presente.40Uma coisa me parece certa: o professor do ciclo básico deve ser valorizado em termos de preparação e salário, caso contrário, os mais belos planos ruirão como castelos de cartas.
(BOSI, Alfredo. Caderno Sinapse.
Folha de S. Paulo, 29/07/2003.)
TEXTO 2
Diretrizes de salvação para a Universidade Pública
1“... poder-se-ia alegar que não é muito bom o ensino das matérias que se costuma lecionar nas universidades. Todavia, não fossem essas instituições,tais matérias geralmente não teriam sido sequer 5ensinadas, e tanto o indivíduo como a sociedade sofreriam muito com a falta delas...”Adam Smith(...) A grande característica distintiva de uma 10Universidade pública reside na sua qualidade geradora de bens públicos. Estes, por definição, são bens cujo usufruto é necessariamente coletivo e não podem sera propriados exclusivamente por ninguém em particular.Quanto ao grau de abrangência, os bens públicos15 podem ser classificados em locais, nacionais ou universais.O corpo de bombeiros de uma cidade, por exemplo, é um bem público local, o serviço da guarda costeira de um país é um bem público nacional, ao 20 passo que a proteção de áreas ambientais importantes do planeta, como a Amazônia, deve ser vista como bem público universal, assim como qualquer outra atividade protetora de patrimônios da humanidade ou de segurança global, como é o caso da 25proteção contra vírus de computador, para citar um exemplo mais atual, embora ainda não plenamente reconhecido.Incluem-se no elenco dos bens públicos as atividades relacionadas à produção e transmissão da cultura, 30 ao pensamento filosófico e às investigações científicas não alinhadas com qualquer interesse econômico mais imediato.A Universidade surgiu na civilização porque havia uma necessidade latente desses bens e legitimou-se 35 pelo reconhecimento de sua importância para a humanidade. Portanto, ela nasceu e legitimou-se como instituição social pública e não como negócio privado, como muitos agora a querem transformar, inclusive a OMC, 40 contradizendo o próprio Adam Smith, o patriarca da economia de mercado, como bem o indica a passagem acima epigrafada, retirada de “A Riqueza das Nações”. As tecnologias podem ser “engenheira das”, 45transformando-se em produtos de mercado, mas o conhecimento que as originou é uma conquista da humanidade e, portanto, um bem público universal, como é o caso, por exemplo, das atividades do Instituto Politécnico de Zurique, de onde saiu Albert Einstein, e 50 do laboratório Cavendish da Universidade de Cambridge,onde se realizaram os experimentos que levaram a descobertas fundamentais da física, sem as quais não teriam sido possíveis as maravilhas tecnológicas do mundo moderno, da lâmpada elétrica à internet.
(...) (SILVA, José M. A. Jornal da Ciência, 22/07/2003.Extraído de: http://www.jornaldaciencia.org.br, 15/07/2003.)