FUVEST 2019 – Questão 68

Linguagens / Literatura
Sonetilho do falso
Fernando Pessoa
 
Onde nasci, morri.
Onde morri, existo.
E das peles que visto
muitas há que não vi.
 
Sem mim como sem ti
posso durar. Desisto
de tudo quanto é misto
e que odiei ou senti.
 
Nem Fausto nem Mefisto,
à deusa que se ri
deste nosso oaristo*,
 
eis-me a dizer: assisto
além, nenhum, aqui,
mas não sou eu, nem isto.
 
Carlos Drummond de Andrade.
Claro Enigma
 
 
Ulisses
O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo-
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
 
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
 
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.
 
Fernando Pessoa.
Mensagem
Considerando os poemas, assinale a alternativa correta.
a) As noções de que a identidade do poeta independe de sua existência biográfica, no “Sonetilho”, e de que o mito se perpetua para além da vida, em “Ulisses”, produzem uma analogia entre os poemas.
b) As referências a Mefisto (“diabo”, na lenda alemã de Fausto) e a Deus no “Sonetilho” e em “Ulisses”, respectivamente, associadas ao polo de opostos “morte” e “vida”, revelam uma perspectiva cristã comum aos poemas.
c) O resgate da forma clássica, no “Sonetilho”, e a referência à primeira pessoa do plural, em “Ulisses”, denotam um mesmo espírito agregador e comunitário.
d) O eu lírico de cada poema se identifica, respectivamente, com seus títulos. No poema de Drummond, trata-se de alguém referido como “falso Fernando Pessoa”, já no poema de Pessoa, o eu lírico é “Ulisses”.
e) Os versos “As coisas tangíveis / tornam-se insensíveis /à palma da mão. // Mas as coisas findas, / muito mais que lindas, / essas ficarão”, de outro poema de Claro Enigma, sugerem uma relação de contraste com os poemas citados.

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