FUVEST 2011 – Questão 70

Linguagens / Literatura / Romantismo / Brasil: Prosadores
Todo o barbeiro é tagarela, e principalmente quando tem pouco que fazer; começou portanto a puxar conversa com o freguês. Foi a sua salvação e fortuna.
O navio a que o marujo pertencia viajava para a Costa e ocupava-se no comércio de negros; era um dos combóis que traziam fornecimento para o Valongo, e estava pronto a largar.
—Ó mestre! disse o marujo no meio da conversa, você também não é sangrador?
—Sim, eu também sangro...
—Pois olhe, você estava bem bom, se quisesse ir conosco... para curar a gente a bordo1; morre-se ali que é uma praga.
—Homem2, eu da cirurgia não entendo muito3...
—Pois já não disse que sabe também sangrar?
—Sim...
—Então já sabe até demais.
No dia seguinte saiu o nosso homem4 pela barra fora: a fortuna5 tinha-lhe dado o meio, cumpria sabê-lo aproveitar; de oficial de barbeiro dava um salto mortal a médico de navio negreiro; restava unicamente saber fazer render a nova posição. Isso ficou por sua conta.
Por um feliz acaso logo nos primeiros dias de viagem adoeceram dois marinheiros; chamou-se o médico; ele fez tudo o que sabia... sangrou os doentes, e em pouco tempo estavam bons, perfeitos. Com isto ganhou imensa reputação, e começou a ser estimado.
Chegaram com feliz viagem ao seu destino; tomaram o seu carregamento de gente, e voltaram para o Rio. Graças à lanceta do nosso homem6, nem um só negro morreu, o que muito contribuiu para aumentar-lhe a sólida reputação de entendedor do riscado.
(Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.)
Das seguintes afirmações acerca de diferentes elementos linguísticos do texto, a única correta é:
a) A expressão sublinhada em “para curar a gente a bordo” (ref. 1) deve ser entendida como pronome de tratamento de uso informal.
b) A fórmula de tratamento (ref. 2) com que o barbeiro se dirige ao marujo mantém o tom cerimonioso do início do diálogo.
c) O destaque gráfico da palavra “muito” (ref. 3), produz um efeito de sentido que é reforçado pelas reticências.
d) O pronome possessivo usado nos trechos “saiu o nosso homem” (ref. 4) e “lanceta do nosso homem” (ref. 6) configura o chamado plural de modéstia.
e) A palavra “fortuna” (ref. 5), tal como foi empregada, pode ser substituída por “bens”, sem prejuízo para o sentido.

Veja outras questões semelhantes:

FUVEST 2008 – Questão 50
O “escrúpulo de exatidão” que, no trecho, o narrador contrapõe à exageração ocorre também na frase: a) No momento em que nos contaram estouramos de tanto rir. b) Dia a dia, mês a mês, ano a ano, tempos, não tirarei os olhos de ti. c) Como se sabe, o capitão os alertou sobre os perigos do lugar. d) Conforme se vê nos registros, faltou nove vezes durante o curso. e) Com toda a certeza, os belíssimos custaram os olhos da cara.
FUVEST 2005 – Questão 75
Com a finalidade de niquelar uma peça de latão, foi montado um circuito, utilizando-se fonte de corrente contínua, como representado na figura. ...
Base dudow 2000 – Questão 30
Identifique a afirmação correta sobre José de Alencar. ...
FUVEST 2006 – Questão 87
Which of these statements is true according to the passage?a) It has been estimated that 58% of the refugees living in Australia are war refugees.b) The Red Cross started a campaign for the cause of environmental refugees in 2001.c) Norman Myers...
FUVEST 2020 – Questão 19
A função E de Euler determina, para cada número natural n, a quantidade de números naturais menores do que n cujo máximo divisor comum com n é igual a 1. Por exemplo, E (6) = 2 pois os números menores do que 6com tal propriedade são 1 e 5. Qual o valor máximo de E (n), para n de 20 a 25? a) 19 b) 20 c) 22 d) 24 e) 25