FGV Administração 2010 – Questão 19

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Herdeiro já era muito; mas universal... Esta palavra inchava as bochechas à herança1. Herdeiro de tudo, nem uma colherinha menos. E quanto seria tudo? Ia ele pensando. Casas, apólices, ações, escravos, roupa, louça, alguns quadros, que ele teria na Corte2, porque era homem de muito gosto, tratava de coisas de arte com grande saber. E livros? devia ter muitos livros, citava muitos deles. Mas em quanto andaria tudo? Cem contos? Talvez duzentos. Era possível; trezentos mesmo não havia que admirar. Trezentos contos! trezentos! E o Rubião tinha ímpetos de dançar na rua3. Depois aquietava-se; duzentos que fossem4, ou cem, era um sonho que Deus Nosso Senhor lhe dava, mas um sonho comprido, para não acabar mais5.
A lembrança do cachorro pôde tomar pé no torvelinho de pensamentos que iam pela cabeça do nosso homem6. Rubião achava que a cláusula era natural7, mas desnecessária, porque ele e o cão eram dois amigos, e nada mais certo que ficarem juntos8, para recordar o terceiro amigo, o extinto, o autor da felicidade de ambos. Havia, sem dúvida, umas particularidades na cláusula, uma história de urna, e não sabia que mais; mas tudo se havia de cumprir, ainda que o céu viesse abaixo9... Não, com a ajuda de Deus, emendava ele. Bom cachorro! Excelente cachorro!
Rubião não esquecia que muitas vezes tentara enriquecer com empresas que morreram em flor. Supôs-se naquele tempo um desgraçado, um caipora, quando a verdade era que “mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga”. Tanto não era impossível enriquecer, que estava rico.
—Impossível, o quê? exclamou em voz alta10.
Impossível é a Deus pecar. Deus não falta a quem promete. 
Machado de Assis, Quincas Borba.
Destes comentários críticos sobre diferentes obras de Machado de Assis, o que se refere ao romance a que pertence o texto é:
a) “Narrado na primeira pessoa, mas por um narrador onisciente, dado o seu original ângulo de visão, não se desenvolve no tempo. Independe dele e evolui segundo os vaivéns da memória do narrador."
b) “Respira o ambiente da grande família do segundo reinado, a sua vida calma e composta, a cordialidade das relações sociais e a doçura dos costumes. Embora atenuada, a influência romântica está presente.”
c) “Romance de estrutura informal e aberta, tecido de lembranças casuais da personagem-autor, que não transcende jamais o bom senso burguês.”
d) “Narrado em terceira pessoa, é rico de humor e de penetração psicológica. Sua conclusão proclama a indiferença universal diante da dor humana, o abandono do homem de qualquer auxílio sobrenatural.” 
e) “Apesar de ser o último romance do autor, traz uma novidade: escrito em forma de diário, o narrador observa, como simples comparsa, as personagens principais.”

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