FATEC 2005 – Questão 44

Linguagens / Português
Ao chegarem à casa, João Romão pediu ao cúmplice que entrasse e levou-o para o seu escritório.
— Descanse um pouco... disse-lhe
— É, se eu soubesse que eles se não demoravam muito ficava para ajudá-lo.
— Fique para jantar. São quatro e meia, segredou-lhe na escada.
Tomavam café, quando um empregado subiu para dizer que lá embaixo estava um senhor, acompanhado de duas praças, e que desejava falar ao dono da casa. — Vou já, respondeu este. E acrescentou para o Botelho: — São eles!
— Deve ser, confirmou o velho. E desceram logo. — Quem me procura?... exclamou João Romão com disfarce, chegando ao armazém. Um homem alto, com ar de estróina, adiantou-se e entregou-lhe uma folha de papel.João Romão, um pouco trêmulo, abriu-a defronte dos olhos e leu-a demoradamente. Um silêncio formou-se em torno dele; os caixeiros pararam em meio do serviço, intimidados por aquela cena em que entrava a polícia.
— Está aqui com efeito... disse afinal o negociante. Pensei que fosse livre... — É minha escrava, afirmou o outro. Quer entregar-ma?... — Mas imediatamente. — Onde está ela? — Deve estar lá dentro. Tenha a bondade de entrar...
O sujeito fez sinal aos dois urbanos, que o acompanharam logo, e encaminharam-se todos para o interior da casa. Botelho, à frente deles, ensinava-lhes o caminho. João Romão ia atrás, pálido, com as mãos cruzadas nas costas. Atravessaram o armazém, depois um pequeno corredor que dava para um pátio calçado, chegaram finalmente à cozinha. Bertoleza, que havia já feito subiro jantar dos caixeiros, estava de cócoras, no chão,escamando peixe, para a ceia do seu homem, quando viu parar defronte dela aquele grupo sinistro.
Reconheceu logo o filho mais velho do seu primitivo senhor, e um calafrio percorreu-lhe o corpo. Num relance de grande perigo compreendeu a situação; adivinhou tudo com a lucidez de quem se vê perdido para sempre: adivinhou que tinha sido enganada; que a sua carta de alforria era uma mentira, e que o seu amante,não tendo coragem para matá-la, restituía-a ao cativeiro.
Seu primeiro impulso foi de fugir. Mal, porém, circunvagou os olhos em torno de si, procurando escapula, o senhor adiantou-se dela e segurou-lhe o ombro.
— É esta! disse aos soldados que, com um gesto,intimaram a desgraçada a segui-los. — Prendam- na! É escrava minha!
A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma das mãos espalmada no chão e coma outra segurando a faca de cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar.
Os policiais, vendo que ela se não despachava,desembainharam os sabres. Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e,antes que alguém conseguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado.
E depois embarcou para a frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de sangue. João Romão fugira até ao canto mais escuro do armazém, tapando o rosto com as mãos.
Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas que vinha,de casaca, trazer-lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito. Ele mandou que os conduzissem para a sala de visitas.
(Aluísio Azevedo, O cortiço. Texto editado.)
A frase – [...] mas o Ramsés, por mais que tente,não consegue se interessar pela doutrina kardecista– revela
a) a admissão do enunciador de que, entre homens e animais, há reciprocidade de caráter religioso.
b) desapontamento do enunciador ao verificar que o comportamento do Ramsés invalida a teoria da semelhança entre humanos e animais.
c) a impropriedade da teoria defendida pelo enunciador acerca da semelhança entre animais e seres humanos.
d) um exemplo da reciprocidade defendida pelo enunciador, pois a doutrina kardecista não é aceita porto dos os homens.
e) uma postura bem-humorada e enfática do enunciador, para afirmar que animais não ficam parecidos com seus donos.

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