Em 2009, a Escola Estadual D. Pedro I, na aldeia Betânia, onde vivem cinco mil ticunas (estima-se que haja 32 mil ticunas vivendo no Alto Solimões, entre a Amazônia brasileira, a colombiana e a peruana), ficou na rabeira do Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio. O colégio, frequentado por 600 jovens representantes da etnia, ostentou o último lugar.
“Há dois ou três anos, todos os professores eram de fora da aldeia, A Organização Geral dos Professores Ticuna Bilíngues foi formando professores indígenas, e o quadro mudou. Nossa escola é muito boa. Tem um ponto de internet. Há dois anos, temos eletricidade. Nosso problema é a língua. Das regiões de Tefé a Tabatinga, predomina a etnia ticuna. Eu acho que justifica lutar por uma universidade ticuna”, diz Saturnino, um dos poucos fluentes em português na aldeia Betânia.
São índios. Mas não adoram o Sol, a Lua, as estrelas, os animais, as árvores. Praticam, sim, com afinco, a religião batista, imposta por um missionário americano, o pastor Eduardo – provavelmente, Edward – que passou por ali, pelo Alto Solimões, a região mais isolada da Amazônia, no amanhecer dos anos 60. São brasileiros, amazonenses, porém não assistem à novela das oito nem ouvem sertanejo universitário. Eles se ligam na TV colombiana e escutam música importada do país vizinho, que ecoa estrondosa dos casebres de madeira. O único sinal de que devem passear de vez em quando pela Globo é o penteado do Neymar enfeitando as cabeleiras escorridas e negras. Não falam português fluentemente. As crianças nem sequer entendem. A língua dos bate-papos animados é o ticuna. No entanto, são obrigados a aprender matemática, química, física, história, geografia etc. na língua-pátria. Uma situação insólita: na língua que não dominam, o português, os jovens precisam ler e escrever – e prestar exames. E, na língua que dominam, o ticuna, também encontram limitações na leitura e na escrita, por tratar-se de uma língua de tradição oral. Assim caminha a juventude ticuna: soterrada numa salada de identidades.
(MONTEIRO, Karla, A pior escola do Brasil? Revista Samuel, número 1, 2012, pp. 36-39. Adaptado.)
O título – A pior escola do Brasil? – justifica-se em relação ao conteúdo do texto pelo seguinte:
a) as demais escolas no território nacional apresentaram resultados piores do que a escola ticuna; logo, o título representa a crítica da autora sobre a escola ticuna ser a pior escola do Brasil nos exames do Enem.
b) as questões do Enem são elaboradas em nível de dificuldade muito superior ao desejável para os alunos do ensino médio no Brasil; assim, o título apresenta um questionamento da autora sobre a adequação da exigência dos exames do Enem.
c) os professores da escola ticuna são estrangeiros incumbidos de ensinar diversas matérias; dessa forma, o título evidencia a contestação da autora quanto a professores não saberem falar a língua nacional.
d) a televisão faz grande diferença na formação dos estudantes; por conseguinte, o título apresenta a indignação da autora com relação à falta de aparelhos de televisão na aldeia dos ticunas.
e) os brasileiros falantes do ticuna têm de aprender as disciplinas convencionais por meio da língua portuguesa; logo, o título sugere uma crítica da autora à comparação equivocada de desempenho nos exames do Enem.