FATEC (2ºsem) 2006 – Questão 46

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[...]
Acordei aos gritos do coronel, e levantei-me estremunhado. Ele, que parecia delirar, continuou nos mesmos gritos, e acabou por lançar mão da moringa e arremessá-la contra mim. Não tive tempo de desviar-me; a moringa bateu-me na face esquerda, e tal foi a dor que não vi mais nada; atirei-me ao doente, pus-lhe as mãos ao pescoço, lutamos, e esganei-o.
Quando percebi que o doente expirava, recuei aterrado, e dei um grito; mas ninguém me ouviu. Voltei à cama, agitei-o para chamá-lo à vida, era tarde; arrebentara o aneurisma, e o coronel morreu. Passei à sala contígua, e durante duas horas não ousei voltar ao quarto.
[...] 
Antes do alvorecer curei a contusão da face. Só então ousei voltar ao quarto. Recuei duas vezes, mas era preciso e entrei; ainda assim, não cheguei logo à cama. Tremiam-me as pernas, o coração batia-me; cheguei a pensar na fuga; mas era confessar o crime, e, ao contrário, urgia fazer desaparecer os vestígios dele. Fui até a cama; vi o cadáver, com os olhos arregalados e a boca aberta, como deixando passar a eterna palavra dos séculos: “Caim, que fizeste de teu irmão?” Vi no pescoço o sinal das minhas unhas; abotoei alto a camisa e cheguei ao queixo a ponta do lençol. Em seguida, chamei um escravo, disse-lhe que o coronel amanhecera morto; mandei recado ao vigário e ao médico.
A primeira ideia foi retirar-me logo cedo, a pretexto de ter meu irmão doente, e, na verdade, recebera carta dele, alguns dias antes, dizendo-me que se sentia mal. Mas adverti que a retirada imediata poderia fazer despertar suspeitas, e fiquei. Eu mesmo amortalhei o cadáver, com o auxílio de um preto velho e míope.
(Machado de Assis, “O enfermeiro”.)
Considere as seguintes afirmações sobre o texto: 
I. O enfermeiro, mesmo sabendo que seu paciente morrera de aneurisma, teve muito remorso, pois achou que o havia esganado.
II. A consciência de que praticou um crime leva o enfermeiro a procurar esconder as evidências de seu ato.
III. O narrador é um homem religioso e, atendendo às necessidades dos rituais funerários, conta como cuidou ele próprio dos restos mortais do coronel.
IV. A frase – Caim, que fizeste de teu irmão? – revela que o enfermeiro considera seu paciente como um irmão, dedicando-se a ele apesar da violência do coronel.
V. O narrador relata os modos pelos quais evitou que se percebesse o assassinato do coronel.
 São corretas apenas as afirmativas:
a) I, II e III.
b) I e IV.
c) II e III.
d) II e V.
e) IV e V.

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