Canção do Exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terá tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro eu cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Gonçalves Dias. Poesia. 9. Ed. Rio de janeiro: Agir, 1979. p. 11.
Sobre o poema, escrito em Coimbra, Portugal, é correto afirmar:
a) O poema retrata o sofrimento do eu lírico em função da distância da mulher amada. O termo "Sabiá", recorrente nos versos, refere-se figurativamente ao amor feminino.
b) A utilização dos termos "cá" e "lá" atém-se principalmente à necessidade de criar rimas, mais do que ao desejo do poeta de estabelecer o contraste entre espaços distintos.
c) Para o eu lírico, estar exilado não significa necessariamente estar longe da terra, mas das suas referências de infância, fator que acentua a expressão saudosista do poema.
d) Nesse poema, é possível reconhecer uma dialética amorosa trabalhada entre o desejo sexual pela mulher e sua idealização. O desejo se configura pelo verso "Mais prazer encontro eu lá" e a idealização, pelos versos "Não permita Deus que eu morra/Sem que eu volte para lá".
e) A ênfase na exuberância da paisagem é estruturada a partir do jogo de contrastes entre a natureza tropical e a natureza europeia. Os versos da segunda estrofe reiteram a grandiosidade paisagística brasileira, além de enfatizarem a identidade do eu lírico.