Como os ursos podem ajudar a medicina a evitar coágulos sanguíneos
O hábito dos ursos-pardos (Ursus arctos) de hibernar por mais da metade do ano em temperaturas frias tem intrigado a ciência há algum tempo. Sabemos por que eles fazem isso, mas como conseguem permanecer saudáveis ao longo de meses, sem quase se mexerem, ainda era um mistério.
Se formos comparar aos humanos, por exemplo, basta um período de imobilidade temporária para que, com certa facilidade, desenvolvamos coágulos sanguíneos. É um dos riscos do tratamento de uma perna quebrada, que pode originar uma trombose, doença caracterizada pela formação de um trombo em uma ou mais veias grandes das pernas e das coxas.
Um estudo recente publicado na revista Science lançou uma luz sobre como os ursos dormentes mantêm o sangue bombeando durante esses meses de torpor. O que pode, em um futuro próximo, ajudar a medicina a evitar a formação dos coágulos em humanos.
No trabalho, foram coletadas e analisadas amostras de sangue de 13 ursos, no inverno e no verão, que revelaram quantidades de mais de 150 proteínas que variavam muito entre os hibernantes e os ativos. Dessas, a de maior disparidade entre os dois períodos era a proteína de choque térmico 47 (HSP47), que em ursos ativos ajuda n coagulação de cortes e para estancar sangramentos, mas para a qual eles têm pouco uso quando estão aconchegados em suas tocas. Em média, as plaquetas dos ursos em hibernação produziram 55 vezes menos proteínas HSP47 do que as dos ursos ativos.
O próximo passo foi comparar amostras de sangue de pacientes humanos que sofreram lesões debilitantes na coluna com amostras de pessoas ativas e, assim, determinar se um mecanismo semelhante impede a coagulação.
Assim como os ursos em hibernação, o sangue dos humanos cronicamente imóveis tem menos proteínas HSP47 circulantes.
A equipe também coletou sangue de vários indivíduos saudáveis antes de participarem de um estudo de simulação de voo espacial de um mês conduzido pela NASA e pelo Centro Aeroespacial Alemão. Após 27 dias de repouso na cama, as plaquetas dos participantes começaram a produzir significativamente menos HSP47 ao longo de sua imobilização experimental.
Os cientistas encontraram ainda um padrão semelhante no sangue de porcos com mobilidade limitada e camundongos criados em laboratório, o que fizeram concluir que essa redução da expressão das proteínas HSP47 pode ser um mecanismo de mamíferos para prevenir a coagulação durante períodos prolongados de repouso Um processo que, no entanto, parece levar tempo para se desenvolver. As pessoas que sofrem de imobilidade de curto prazo, devido a doenças ou lesões, são mais suscetíveis à coagulação do que pessoas cronicamente imóveis.
A conclusão destaca como a compreensão da biologia de outros animais pode auxiliar na compreensão do funcionamento do corpo humano e, potencialmente, inspirar tratamentos em pacientes com imobilidade temporária.
Disponível em: https://veja.abril.com.br/saude/como-os-ursos-podem-ajudar-a-medicina-a-evitar-coagulos-sanguineos/. Acesso em:27 de abr. de 2023. [Adaptado]
Com base no texto 4, assinale a alternativa CORRETA.
a) À medida que os indivíduos têm sua mobilidade reduzida, a produção da proteína HSP47 é gradualmente incrementada.
b) As pessoas que participaram da pesquisa eram astronautas da NASA e do Centro Aeroespacial Alemão que estiveram em voo espacial durante um mês.
c) O sangue de pessoas ativas ou com imobilização temporária contém mais proteína HSP47 do que o das pessoas imobilizadas há muito tempo.
d) A trombose é um risco associado a fraturas nas pernas porque a falta de movimentação em mamíferos interrompe a produção da proteína HSP47