UNIFESP port e inglês 2005 – Questão 23

Linguagens / Literatura / Modernismo Brasileiro: 2a Fase / Mário Quintana
De gramática e de linguagem
E havia uma gramática que dizia assim:
“Substantivo (concreto) é tudo quanto indica
Pessoa, animal ou cousa: João, sabiá, caneta”.
Eu gosto é das cousas. As cousas, sim!...
As pessoas atrapalham. Estão em toda parte. Multipli-
[cam-se em excesso.
As cousas são quietas. Bastam-se. Não se metem com
[ninguém.
Uma pedra. Um armário. Um ovo. (Ovo, nem sempre,
Ovo pode estar choco: é inquietante...)
As cousas vivem metidas com as suas cousas.
E não exigem nada.
Apenas que não as tirem do lugar onde estão.
E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta.
Para quê? não importa: João vem!
E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão.
Amigo ou adverso... João só será definitivo
Quando esticar a canela. Morre, João...
Mas o bom, mesmo, são os adjetivos,
Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto.
Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. Luminoso.
Sonoro. Lento. Eu sonho
Com uma linguagem composta unicamente de adjetivos
Como decerto é a linguagem das plantas e dos animais.
Ainda mais:
Eu sonho com um poema
Cujas palavras sumarentas escorram
Como a polpa de um fruto maduro em tua boca,
Um poema que te mate de amor
Antes mesmo que tu saibas o misterioso sentido:
Basta provares o seu gosto...
Mário Quintana
Para o poeta, a linguagem deve
a) ser inquietante e misteriosa como um ovo que, quando choco, guarda sentidos desconhecidos.
b) ser composta pelos substantivos concretos e pelos adjetivos para assemelhar-se à linguagem das plantas e dos animais.
c) conseguir matar as pessoas que, como diz o poeta, atrapalham. Por isso ele afirma: “Morre, João...”
d) excluir o amor, uma vez que esse sentimento a destitui do verdadeiro e misterioso sentido abrigado nas palavras.
e) bastar-se a si mesma, pois há de conter a essência do sentido na sua constituição.

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