Qual pintor melhor retrata as cores do Brasil? Comecemos por Alfredo Volpi (1896-1988). À primeira vista, a ligação de Volpi com o Brasil seria sobretudo figurativa. Mas isso não é exato. A leitura da obra de Volpi como arte figurativa, presa à representação da realidade, só se aplica à primeira metade de sua extensa produção. A verdade é que, em sua longa maturidade, Volpi pensava abstratamente sua pintura. Pode-se dizer que cunhou realmente uma linguagem própria, linguagem original, internacionalmente inteligível e eficaz, ligada à geometria, mas de fundamentos brasileiros. Qualquer bandeirinha ou fachada de Volpi depois dos 50 anos é um emblema pleno do Brasil. Mas não de todos os Brasis. Mais precisamente do que ele pôde conhecer como imigrante pobre, na cidade de São Paulo e arredores.
Sem intenção, Volpi criou uma linguagem universal de fundamentos brasileiros; criá-la foi, pelo contrário, o propósito explícito e o projeto de vida do pintor Rubem Valentim (1922-1991). Foi no candomblé que o baiano Valentim buscou as formas que adotou, construindo uma pintura abstrata geométrica estrita. De todos os retratos simbólicos do Brasil, o seu é o menos literal, porque só lida com signos abstratos - triângulos, círculos, mandalas, setas e o famoso " machado de xangô" - e não com temas e figuras.
Predominantemente no nível temático, pelo menos outros três grandes artistas criaram emblemas do Brasil. Até hoje, Cândido Portinari (1903-1962) é o pintor mais conhecido nacional e talvez internacionalmente. Homem de esquerda, quis traçar um retrato sério da nação, destacando lados dolorosos; e também estes, certamente, não a podem resumir. O Brasil não se limita aos campos de plantações, ao trabalho penoso, aos colonos de pés agigantados, aos retirantes, aos deserdados, à paisagem humana tão dramática na qual Portinari insistiu com eficácia. Ainda setorial – embora de beleza e poesia intensíssimas - é o Brasil contido na obra de Alberto da Veiga Guignard (1896-1962). Autor de fantásticos vasos de flores e de retratos e flagrantes intimistas de um extremo lirismo, dedicou-se sobretudo a paisagens imaginárias de seu estado de adoção, Minas Gerais, feitas de montanhas pontiagudas, igrejinhas pintalgadas e balõezinhos de São João escapando pelas bordas da tela. Enfim, Emiliano Di Cavalcanti ( 1897-1976), perfeito carioca (como ele mesmo se intitula num livro de memórias), trata como ninguém do samba, da favela e da mulata, tema que o tornou conhecido mais que nenhum outro. Cálida, sensual, langorosa, de formas abarrocadamente generosas, a opípara mulata de Di pode ser um dos símbolos do país onde ele nasceu, mas tampouco o abarca em seu todo.
Opípara: opulenta, esplêndida.
Olívio Tavares de Araújo, revista Ícaro Brasil, edição de outubro de 1999. (adaptado)
O quadro ao lado chama-se Família do Fuzileiro Naval. De acordo com as informações do texto e a leitura do quadro, todas as considerações a seguir são coerentes, À EXCEÇÃO DE:
Fonte: http://www.google.com/images
a) O tema da família e sua representação figurativa não se ajustam ao projeto de arte desenvolvido por Valentim.
b) A obra não é representativa da produção de Volpi pós-50 anos, pois, conforme o título sugere, é figurativa.
c) A singeleza da cena familiar representada contrasta com os dramas e as misérias de segmentos sociais marginalizados retratados por Portinari.
d) O título da obra e a representação da figura feminina como uma recatada matriarca demonstram as preferências temáticas de Di Cavalcanti.
e) A representação figurativa de uma reunião familiar e a beleza da paisagem natural ao fundo vão ao encontro do lirismo característico de Guignard.