Base dudow 091 2000 – Questão 5

Linguagens / Literatura / Barroco / Padre Antônio Vieira
1Pinta-se o amor sempre menino, porque ainda que passe dos sete anos, como o de 2Jacó, nunca chega à idade de uso da razão. Usar de razão e amar são duas cousas que não se ajuntam. A alma de um menino, que vem a ser? Uma vontade com afetos e um entendimento sem uso. Tal é o amor vulgar. Tudo conquista o amor quando conquista uma alma; porém o primeiro rendido é o entendimento. Ninguém teve a vontade 3febricitante, que não tivesse o entendimento 4frenético. O amor deixará de variar, se for firme, mas não deixará de 5tresvariar, se é amor. Nunca o fogo abrasou a vontade, que o fumo não cegasse o entendimento. Nunca houve enfermidade no coração, que não houvesse fraqueza no juízo. Por isso, os mesmos pintores do amor lhe vendaram os olhos. E como o primeiro efeito ou a última disposição do amor é cegar o entendimento, daqui vem que isto que vulgarmente se chama amor, tem mais partes de ignorância; e quantas partes têm de ignorância, tantas lhe faltam de amor. Quem ama, porque conhece, é amante; quem ama, porque ignora, é 6néscio. Assim como a ignorância na ofensa diminui o delito, assim no amor diminui o merecimento. Quem ignorando ofendeu, em rigor não é delinquente; quem ignorando amou, em rigor não é amante. (...)
Quatro ignorâncias podem concorrer em um amante que diminuam muito a perfeição e merecimento do seu amor. Ou porque não se conhecesse a si, ou porque não conhecesse o fim onde há de parar amando. Se não conhecesse a si, talvez empregasse o seu pensamento onde o não havia de pôr, se se conhecera. Se não conhecesse a quem amava, talvez quisesse com grandes finezas a quem havia de 7aborrecer, se o não ignorara. Se não conhecesse o amor, talvez se empenhasse cegamente no que não havia de empreender, se o soubera. Se não conhecesse o fim em que havia de parar amando, talvez chegasse a padecer os danos a que não havia de chegar, se os previra. Todas estas ignorâncias que se acham nos homens, em Cristo foram ciências, e em todas, e cada uma, crescem os quilates de seu extremado amor. Conhecia-se a si, conhecia a quem amava, conhecia o amor, e conhecia o fim onde havia de parar amando.
(Padre Antônio Vieira, Sermão do Mandato)
 
1.Pinta-se o amor sempre menino: referência a Cupido, personificação mitológica do amor representada como uma criança alada, que disparava cegamente suas setas contra os mortais.
2. Jacó: personagem bíblica que serviu sete anos por amor de Raquel, já referido na Lírica de Camões, a propósito do soneto ― Sete anos de pastor Jacó servia.
3. Febricitante: febril, ardente.
4. Frenético: desvairado, enlouquecido.
5. Tresvariar: desvairar, delirar.
6. Néscio: ignorante.
7. Aborrecer: corresponde à forma atual aborrecer-se com.
Qual o raciocínio que não se encontra no texto de Vieira?
a) Cupido é sempre menino porque o amor nunca se torna maduro e racional.
b) Cupido tem os olhos vendados porque o amor é cego e ignorante.
c) A ignorância, assim como diminui a gravidade do crime, diminui o mérito do amor.
d) Os homens não amam verdadeiramente a Cristo, porque não conhecem Cristo.
e) Só Cristo de fato amou, porque amou sabendo.

Veja outras questões semelhantes:

UNESP (julho) 2010 – Questão 12
Cruz e Sousa utiliza o verso tradicionalmente empregado no soneto, o decassílabo de origem italiana. Aponte a alternativa cujo verso apresenta o esquema acentual 1-4-6-10: a) Da gargalhada atroz, sanguinolenta. b) Agita os guizos, e convulsionado. c) Nessas macabras piruetas d’aço. d) Vamos! Retesa os músculos, retesa. e) De uma ironia e de uma dor violenta.
UERJ 2012 – Questão 13
Toda a indagação do cronista acerca da palavra se baseia na diferença entre a importância que ela pode ter, por um lado, para quem a escreve e, por outro, para quem a lê. O par de vocábulos que melhor exemplifica essa diferença no texto é: a) esqueci − feri b) ofício − consolo c) espontânea − secreta d) reconciliar − despertar
Base dudow 2000 – Questão 42
Assim se pode definir o romance A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo: a) Relato da vida nas repúblicas estudantis do tempo do Império. b) Estudo da psicologia de um tipo de mulher brasileira, no ambiente rural. c) História de fidelidade ao amor de infância, na sociedade do Rio Imperial. d) Crônica de um caso de mistério, na sociedade carioca de fins do século. e) Narrativa sobre o problema da escravidão, na sociedade brasileira do século passado.
Base dudow 2000 – Questão 32
Um dos trechos abaixo é claramente naturalista. ...
Base dudow 2000 – Questão 71
Leia o fragmento textual de Fernando Pessoa e assinale a alternativa CORRETA. ...